Redescobrir a Ressurreição

Redescobrir a Ressurreição

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A Ressurreição é um dos temas centrais do cristianismo. A nossa esperança se baseia nela, como dizia Paulo aos crentes de Corinto. Da mesma forma, daqui a pouco tempo também celebraremos a festa da ressurreição na tradição cristã, que é a Páscoa.

Mesmo que seja uma palavra comumente falada e constantemente mencionada em homilias e pregações, o que será que ela realmente quer dizer? Será que a ressurreição ainda faz sentido hoje, ou caiu simplesmente na categoria de um dogma hermético que, por não ter como comprovar, é melhor aceitar e celebrar do jeito que já se celebra há tantos anos.

Biblicamente, o termo ressurreição utilizado por Paulo tem sua origem na palavra grega anastasia, que quer dizer despertar. É esse o motivo de Paulo utilizar o símbolo do sono para aqueles e aquelas que morreram em Cristo. Uma vez que a morte definitiva, o total aniquilamento do ser não atinge aos que estão em Cristo, eles somente dormem, aguardando serem despertados no Dia do Senhor. Em termos paulinos, despertar do sono é a ressurreição.

Na sua carta aos Romanos, escrita posteriormente à carta aos Coríntios, Paulo avança um pouco mais em sua reflexão, mostrando que se morremos com Cristo, também seremos ressuscitados com ele, trazendo, portanto, a experiência da ressurreição para mais perto de nós, não a colocando somente em um momento no além morte.

Com o desenvolvimento do cristianismo, e infelizmente, até nossos dias, ainda é comum pensar a ressurreição somente como algo de caráter espiritual, afastado da realidade e, portanto, inacessível. Por considerá-la muito distante de nós, são várias as pessoas que não refletem sobre esse símbolo maravilhoso do cristianismo.

A ressurreição, antes de tudo, tem a ver com a nova vida que se experimenta a partir da experiência de encontro com o Ressuscitado. Nesse sentido, traz a renovação da esperança de que a morte não tem a última palavra e de que o mal não prevalece sobre o bem. Experimentar a ressurreição, portanto, não é algo que deve ser pensado somente para tempos futuros, como algo inalcançável. Muito pelo contrário, a esperança cristã afirma que hoje já experimentamos as primícias da ressurreição, enquanto aguardamos a nova criação de todas as coisas que vem da parte de Deus.

Diante disso, pensar a ressurreição hoje, antes de tudo, é recuperar a beleza e a responsabilidade que esse símbolo traz consigo. Se a fé cristã afirma que já experimentamos as primícias da nova criação de todas as coisas, então a nossa própria maneira de viver precisa refletir o novo Reino que esperamos, em forma de anúncio. Nesse sentido, diante da esperança de um mundo em que habita a justiça plena, somos impelidos e impelidas a lutar para que a justiça que cremos que haverá no Reino de Deus seja também feita aqui. Se, tendo ressuscitado com Cristo, experimentamos o amor e a misericórdia incondicional de Deus, somos impelidos e impelidas a sermos agentes da misericórdia e do amor entre os nossos conterrâneos.

Redescobrir a ressurreição é trazê-la efetivamente para o chão do mundo, fazer com que ela seja também experimentada e testemunhada por todas as pessoas que estão ao nosso redor. É mostrar que não se trata somente de uma esperança para um futuro distante, mas que é algo que, vindo da parte de Deus, deve ser vivido, testemunhado e anunciado hoje. Quando a ressurreição é colocada somente como evento de um futuro distante, em nada se diferencia de uma mitologia e, com certeza, não é essa a proposta da fé cristã.

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