O cuidado da natureza como tarefa cristã

O cuidado da natureza como tarefa cristã

No relato da criação contido no livro de Gênesis é possível perceber a imagem de um Deus que cria e se alegra com aquilo que resulta de sua palavra criadora. A cada nova coisa criada, a frase que relata que Deus “viu que era bom” se faz presente na narrativa, o que nos leva a compreender que a natureza e tudo o que nela existe é algo que agrada a Deus e existe por meio de seu amor criador. Aliás, não poderia ser diferente, uma vez que, em perspectiva cristã, Deus é amor e é próprio do amor a criação, de maneira que Deus está sempre criando e gerando vida.
Ao longo dos séculos, porém, a criação foi vista somente como algo para benefício do ser humano, sem nenhum valor em si mesma. Numa ideia antropocêntrica de que todas as coisas foram criadas para que o ser humano dominasse sobre elas, a exploração da natureza e dos recursos naturais chegou a ser incentivada e duramente executada nos períodos modernos e pós-revoluções industriais.
A continuação desse processo acontece ainda em nossos dias, nos quais a poluição do ar se encontra em níveis alarmantes; o aquecimento global, comprovado por inúmeras pesquisas se mostra crescente em nosso planeta, ainda que algumas pessoas de má fé e não preocupadas com o planeta insistam em dizer que isso não é uma verdade; o desmatamento da Amazônia, considerado o pulmão do mundo, alcançou em dias atuais um nível alarmante por contar com o incentivo do governo atual e seus ministros, numa destruição sem medida da biodiversidade existente em nosso país; a corrida nuclear, que até pouco tempo alcançou a marca de possibilitar a nós mesmos a destruição do nosso planeta e de toda vida na Terra; todas essas coisas motivadas pela visão de que essa natureza está aí para servir ao ser humano e que este deve arrancar dela até o último recurso para satisfazer aos prazeres e luxos de uma sociedade capitalista e consumista.
Diante disso, relembrar a premissa cristã da criação se mostra fundamental. Atentar ao texto, como bem coloca o teólogo alemão Jürgen Moltmann, nos faria perceber que o ser humano não deve ser visto como coroa da criação e, consequentemente, aquele que deveria dominar sobre tudo o que existe. Antes, por ser o último criado, está em dependência total da existência da natureza para sua própria existência, sendo, portanto, colocado como um jardineiro que cuida do jardim no qual foi colocado, a fim de que possa usufruir dele e viver a partir dele.
Assim, longe de ser o maior da natureza, o ser humano é o mais dependente de tudo. Um simples exercício mental nos mostra isso: imaginemos, por um segundo, que todos os recursos naturais se acabassem e não houvesse mais plantas, animais e água. Nós, seres humanos, não sobreviveríamos uma semana sequer sem a natureza. Agora, imagine se, de um dia para o outro, a humanidade deixasse de existir. Podemos ter certeza de que a natureza continuaria vivendo e, sem dúvida, de uma maneira muito melhor do que está hoje.
O cuidado da natureza é tarefa cristã. Pregar o consumo sem limites dos recursos naturais, a privatização desses recursos, como a água ou as áreas verdes é algo que não encontra eco nas Escrituras. Dessa forma, é tarefa cristã se posicionar contra o desmatamento da Amazônia, contra a venda das reservas aquíferas que estão no nosso país, contra o extermínio dos povos indígenas que o governo atual do Brasil tem insistido em fomentar, contra a mineração criminosa que mineradoras como a Vale têm feito em Minas Gerais, destruindo as riquezas naturais e a vida de cidades para a obtenção de lucros exorbitantes que retornam para seus acionistas, enquanto destrói vidas e famílias no Estado.
 O reconhecimento da natureza como criação de Deus é fundamental para a luta por sua conservação contra os desejos do sistema financeiro de controlar e possuir todas as reservas naturais com o intuito de vendê-las para a obtenção de lucro e, consequentemente, o extermínio das pessoas mais vulneráveis.
Preservar a natureza é tarefa cristã. Todo aquele e toda aquela que incentiva a degradação da natureza e seu extermínio não pode ser um enviado de Deus, antes, revela-se como um enviado das trevas que só tem como intuito matar, roubar e destruir.

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