O teólogo como profissional do diálogo

O teólogo como profissional do diálogo

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A denominação de teologia enquanto ciência da fé já é bastante tradicional, sendo, talvez, a mais utilizada quando se pergunta a respeito do fazer teológico. A fé que busca o entendimento, por sua vez, garante um dos pilares disso que chamamos teologia: que toda teologia parte do dado da fé daquele ou daquela que crê e, sem ela, tal fazer teológico pode, até mesmo, ser questionado.

Ao passarmos para o campo científico propriamente dito, na esteira das revoluções científicas que aconteceram desde o século 16, pensar a teologia envolve também em pensar o método teológico, de maneira que seja possível a qualquer pessoa identificar que, em determinada pesquisa, o rigor conceitual e procedimental (tão caros à ciência) tenha sido cumprido, de maneira que o que vier de tal esforço contribua para o conhecimento do campo teórico em questão.

Da mesma forma, como toda ciência, seu intuito deve ser contribuir para a melhora da sociedade em que é feita. Com isso em mente, é pressuposto que aquele e aquela que se forma como teólogo ou teóloga seja um profissional devidamente capacitado para propor novas leituras e interpretações da realidade a partir de determinada teologia, visando sempre o bem-estar de sua comunidade.

Quando nos movemos para o âmbito da teologia cristã, além de todos essas qualidades que todo cientista deve ter, precisamos pensar em atitudes fundamentais que um teólogo ou teóloga cristã precisa ter. Dentre elas, a capacidade dialogal. Numa perspectiva cristã, não há teologia sem diálogo, de maneira que o teólogo ou teóloga deve ser, antes de tudo, um profissional na arte dialógica.

Isso, contudo, não deve ser compreendido como alguém que seja, simplesmente, bom na arte da retórica ou do convencimento. Muito além dessas habilidades (nada contra se as tiver), a postura dialogal envolve o comprometimento da escuta atenta e, principalmente, a escuta humilde.

Ser um/a profissional do diálogo implica, antes de tudo, reconhecer-se como sendo mais um na multidão, nem melhor, nem pior do que as outras pessoas com quem irá dialogar. Nesse sentido, abrir mão de qualquer pretensão de superioridade se torna fundamental para que essa profissão teológica seja bem executada. No momento em que o senso de superioridade entra, a capacidade teológica se esvai.

Da mesma forma, quando dizemos a capacidade da escuta atenta não nos referimos ao mero ato de uso do aparelho auditivo. Muito além disso, tal escuta demanda de tal profissional o engajamento com a situação na qual está inserido, o acolhimento das diversas realidades em seu entorno para, assim, poder realmente ouvir as questões de seu tempo e seu contexto.

Sem escuta não há diálogo. Pode haver monólogos doutrinais, respostas dogmáticas a perguntas não perguntadas, dentre tantos outros inconvenientes que um falar apressado pode trazer.

Se a teologia enquanto ciência tem a capacidade de formar um profissional do diálogo, é necessário que estejamos atentos a perceber se teólogos e teólogas de hoje estão realmente cumprindo com tal papel na sociedade. Ou contrariamente a isso, temos ditos diversos teólogos e teólogas que, sendo péssimos profissionais do diálogo, nada mais fazem do que tornar a ciência teológica mais inalcançável e, pior ainda, sem razão nenhuma para existir em uma sociedade plural como a nossa.

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