Religiões, Ecologia e Natureza

Religiões, Ecologia e Natureza

Falar sobre a questão ecológica é um imperativo de nossos dias. Por mais que haja aqueles e aquelas que loucamente afirmam que não há aquecimento global, que isso é mais uma das diversas faces que a Terra já passou, tal como a era do gelo e tantas outras bobagens que lemos no dia a dia, qualquer pessoa atenta às pesquisas científicas sobre o clima, ou até mesmo a eventos visíveis tais como as queimadas que aconteceram na Austrália no final do ano passado, ou os 20º C que acometeram a Antártida recentemente, sabe que algo errado está acontecendo com o planeta.
Dessa vez, porém, fruto da ação humana que, sob o lema do “progresso”, continua a cada dia destruindo a natureza, lançando inúmeros poluentes no ar, aumentando o efeito estufa que gera o descongelamento das calotas polares, o que, daqui a algum tempo, causará o aumento do nível do mar, matando diversas pessoas e acabando com diversos países.
Fechar os olhos para isso não é mais possível e diversos setores da sociedade estão tendo essa clareza e estão cônscios de suas responsabilidades frente à crise ecológica que o século XXI enfrenta. A religião, como um aspecto importante da sociedade, não pode ficar de fora. Ela também precisa pensar e repensar o seu ensino a respeito do meio ambiente. Principalmente a religião cristã, que ao longo dos séculos pregou e incentivou a exploração da natureza por parte do ser humano, interpretando o versículo de Gênesis sob o princípio errado do domínio predatório ao invés do princípio da mordomia do qual o texto fala. Essa mancha na história do cristianismo, reconhecida já por muitos, deve também motivar novas teologias ecológicas, que assumam seu papel e motivem ações efetivas de combate à crise ecológica que temos vivido.
Da mesma forma, as diversas religiões mundiais, ao tomarem consciência do grande papel que desenvolvem na sociedade, são chamadas a assumir a responsabilidade de transformação das consciências de seus fieis para o se importar com a natureza.
Em seus cernes, a maioria das grandes religiões tem a natureza como algo importante e necessário para a humanidade, constando isso em seus diversos textos sagrados. Da mesma forma, são diversos os rituais, sejam nas religiões de matrizes africanas, sejam nas indígenas, que necessitam da natureza e tem nela um dos elementos ritualísticos mais importantes nas oferendas e cultos às divindades.
Diante desse cenário, é importante perceber que diversas religiões têm tomado consciência da necessidade de voltarem a se importar com a natureza, reconhecendo nela algo com valor em si mesmo e que, portanto, não deve ser explorado.
Nesse sentido, o III Congresso Lusófono de Ciências da Religião, que aconteceu em Lisboa este ano com o tema Religião, Ecologia e Natureza, trouxe para uma mesma mesa representantes de um amplo espectro religioso para abordar a temática ecológica, a visão que cada religião tem acerca da natureza e como seria possível fazer algo efetivo para a transformação da sociedade no que tange a esses assuntos.
O foco foi procurar não somente uma reflexão teórica sobre a importância da natureza para as diversas religiões, mas também, aliando a isso, ações de ordem prática. Esse último ponto foi percebido em diversos relatos, tais como a construção de templos ecologicamente corretos feitos por algumas comunidades hindus e muçulmanas em Portugal, ou ainda a mudança nas oferendas dos rituais nos cultos a Iemanjá feitos na Bahia, de maneira que não danifiquem os mares após o ritual ter terminado.
Esses pequenos exemplos, ao mesmo tempo, revelaram algo muito importante: que as religiões têm um papel fundamental na educação de seus fieis no que tange ao cuidado da natureza e, por isso mesmo, precisam assumir tal responsabilidade.
Em outras palavras, não devem se abster de falar sobre a crise ecológica e propor, por meio de ações concretas, uma nova forma de viver em sociedade, que respeite os ciclos naturais, de maneira que a Terra continue sendo nossa Casa Comum.

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