O que devo fazer para herdar a vida eterna?

O que devo fazer para herdar a vida eterna?

O que devo fazer para obter a vida eterna? Essa pergunta que encontramos em Lucas 18:18, feita por certo rapaz a Jesus ainda hoje incomoda vários de nós. Entre os cristãos, o medo da condenação eterna é extremamente tangível e muitos, desesperadamente, se questionam e questionam os seus líderes a respeito disso.
No versículo, isso se mostra como uma dúvida também de certo judeu no tempo de Jesus, o que provavelmente, também refletia dúvidas da comunidade a partir de qual a narrativa foi feita.
Ao ser questionado, a fala de Jesus, em primeiro instância, apela para a questão dos mandamentos. A Torah, para o judeu, é vista como aquilo que Deus requer da humanidade. Nesse sentido, Jesus, entrando totalmente no ambiente daquele homem, pergunta a respeito daquilo que ele mesmo conhece e que todo judeu no tempo de Jesus também conhecia, ou seja, os mandamentos de Moisés. Diante disso, a resposta de Jesus para aquele homem não ajuda de nada, uma vez que ele já fazia tudo conforme a lei mosaica ordenava e “desde a sua adolescência”, como mostra a narrativa, contudo, mesmo fazendo e observando todos os princípios da Lei, ainda não havia a certeza de sua vida eterna e algum tipo de angústia o assolava nessa questão.
Diante da resposta desse homem de que ele já fazia e observava toda lei que ele conhecia, Jesus percebe que ainda algo lhe faltava. A fala de Jesus para que ele “venda tudo o que tem e dê aos pobres e terás um tesouro no céu e depois vem e segue-me”, então, vai muito profundo no coração daquele homem. Jesus não estava pedindo que se obedecesse mais um preceito. Talvez, era justamente isso que esse homem queria, ou seja, mais um preceito para seguir, mais alguma coisa para poder “garantir” sua vida eterna e ser considerado um homem que agrada a seu Deus.
No entanto, se olharmos com atenção, o que Jesus solicita àquele homem é um total despojamento de tudo aquilo que lhe dá segurança: tanto a lei que ele seguia desde sua adolescência, quanto todos os bens que ele possuía e o tornavam importante diante da sociedade de Israel daquele tempo. Jesus, ao falar àquele homem: “segue-me”, estava fazendo um convite para que esse que seguia toda a lei desde pequeno passasse a seguir a uma pessoa que era considerada subversiva e “amigo de pecadores e publicanos”, ou seja, alguém que escandalizava totalmente os líderes religiosos da própria Lei que esse homem seguia. Da mesma forma, ao dizer: “vende tudo o que tens e dá aos pobres”, o que requer desse homem que pergunta é o desprendimento a todo tipo de status e  a total disposição para ser alguém que vive para o outro.
Como o texto mostra, essa não era a resposta esperada, tanto que na sequência, vemos como que esse homem sai de lá triste por ser muito rico e dono de muitas propriedades.
Não seríamos nós, muitas vezes, assim como esse jovem rico, tentando alcançar a salvação como acúmulo de boas obras e seguimento de ordenanças, sejam elas institucionais, sejam elas morais e, dessa forma, esquecemos que o convite de Jesus não é para o seguimento de ordenanças, mas para o seguimento de uma pessoa?
Como cristãos, precisamos entender que o chamado de Jesus que diz “segue-me” implica o andar em seus passos, ou seja, como mostram as narrativas do Evangelho, isso implica em lutar a sua luta em favor dos menos favorecidos, amparar aqueles que não tem parte na terra e denunciar a corrupção do poder e a ganância daqueles que possuem riquezas. Ao mesmo tempo, esse seguimento nos chama ao desprendimentos de certezas dos chamados “atos meritórios” que, muitas vezes, nos fazem pensar que somos melhores e mais dignos da salvação de que outros.
Diante disso, podemos dizer que enquanto nossa preocupação como cristãos for a respeito daquilo que devemos fazer para sermos salvos, isso quer dizer que ainda não compreendemos a proposta de Jesus e seu seguimento e, como o jovem rico, constantemente voltaremos a perguntar: “Bom Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna”?

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