sobre felicidades

sobre felicidades

Não dificilmente temos a mania de procurar felicidades em coisas externas a nós. Na maioria das vezes, talvez mesmo inconscientemente, pensamos que seremos felizes ao ter a casa, o casamento, os filhos, o emprego, o curso, o título que sempre sonhamos em ter.
Tenho pensado sobre essa questão nesses dias. Essa facilidade que temos de colocar nossa felicidade no que está para além de nós, na dependência de determinada coisa. Não quero com isso dizer que não se deve procurar essas coisas. Temos consciência que o homem é um ser de busca, e que é sempre a ausência de alguma coisa que nos move, contudo chamo a atenção para esse afã para aquilo que é externo na busca da felicidade.
Um ponto que considero interessante é a fala de Jesus: “onde está o seu tesouro aí está também seu coração” encontrada em Mateus 6. Uma fala bem simples, mas com grandes ensinamentos e penso que nos faz refletir sobre nossa visão sobre o mundo e nossa visão sobre Deus.
Quanto à visão de mundo, diversos de nós fomos ensinados a ver o mundo como  um lugar mau, de passagem somente, que não pertencemos a ele, que não é nossa pátria e diversos de nós levamos isso muito a sério a ponto de desejarmos a morte ao invés de viver no mundo. Não acredito que Jesus tinha essa visão. Qualquer um que ler os evangelhos com atenção verá que Jesus era um grande amante da vida, das comidas e bebidas, sendo até acusado pelos fariseus de ser um comilão e beberrão amigo de pecadores.
Vários de nós entendemos de forma errada tanto as falas de Paulo, Pedro e João quanto à não pertinência ao mundo, quanto às falas de Jesus quanto à essa mesma pertinência. Importante frisar que ambos falam a respeito do sistema mundano que é mau. O mundo em si não é mau, foi criado por Deus para deleite do homem e para que ele aproveitasse de tudo que há nele. Não pertencer ao mundo tem a ver com a pertinência ao sistema egoísta, corrompido, sem amor a Deus e ao próximo que vemos hoje. Nesse sistema somos somente passageiros, transeuntes que visam a pátria eterna, na qual reina justiça e amor, que coincidentemente reflete a pessoa de Jesus e ao céu.
Penso que quando Jesus fala sobre não ajuntar tesouros na Terra onde traça e ferrugem corropem no mesmo capítuo, isso não tem a ver com o fato de ser rico. Jesus nunca teve nada contra riquezas, desde que ela não tome o lugar Dele em nós. (Permita-me um pequeno parêntese aqui quanto a essa questão de Deus e Mamom levantada por Jesus. Interessante perceber que o dinheiro aqui é colocado como antagônico de Deus. Ou se serve a um ou ao outro. Ou seja, é impossível amar a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo. A razão disso é óbvia: aquele a quem mais se ama, mais nos entregamos a ele. Dinheiro chama o desejo de mais dinheiro e amor chama o desejo de mais amor. Penso ser por isso que é inconciliável. Enquanto Deus é sempre doação, o dinheiro é sempre acumulação e nesse ponto que residirá, a meu ver, a dicotomia entre o servir a Deus e ao dinheiro). Em Jesus temos nossa visão de mundo mudada. Estamos de passagem com relação ao sistema, pois visamos e experimentamos algo melhor e mais sublime, mas estamos no lugar que Deus criou para nós enquanto lugar para viver e assim devemos usufruir o máximo possível enquanto estivermos aqui.
Quanto à visão de Deus, imaginamos Deus no céu e imaginamos o céu como lugar físico. Não raramente vemos o céu como algo externo a nós. Talvez fruto da cultura judaica antiga que via o mundo dividido em três esferas (em cima estava o céu, embaixo estava o Sheol e no meio estava a Terra). Hoje sabemos que é meio difícil falarmos de em cima e embaixo com nosso conhecimento do universo e tudo mais. Dessa forma, penso que repensarmos o céu é algo que devemos fazer hoje.
Da minha parte, prefiro pensar o céu como estado. O céu seria esse estado de plenitude de Deus em nós que seria refletido pelo amor a Ele e pelo amor ao próximo. Ou, em termos cristãos, a real presença de Jesus em nossas vidas. Consequentemente, o céu é onde Jesus está. Nesse sentido, o lugar onde serão o novo céu e nova Terra não faz muita diferença, pois onde Cristo está e reina, lá é novo céu e nova Terra para os que estão Nele. Nesse sentido, nossa visão de Deus também muda. Ajuntar tesouros no céu onde traça e ferrugem não devoram em nada tem a ver com uma contabilidade celestial, onde Deus fica como gerente de banco acumulando galardões e debitando nossa conta a medida que algum pecado ocorre. Ajuntar tesouros no céu passa  ter a perspectiva de viver como Cristo, amando e sendo agentes de graça aos homens. Contra essas coisas não há lei como dizia Paulo e ferrugem e traça não podem corroer como diz Jesus.
O que isso tem a ver com o buscar a felicidade com algo extrínseco a nós? A meu ver, tudo. Se onde está nosso coração ali está nosso tesouro e se nossa felicidade estiver relacionado a algo fora de nós, seremos como aquela pessoa do paradoxo de Zenão que sempre tem que andar metade do caminho para alcançar a próxima metade, sucessivamente, e assim nunca alcançaremos onde achamos que nossa felicidade está. Tendemos a ser infelizes em nossa busca.
Se nossa felicidade estiver relacionada com Cristo em nós, é bem provável que veremos o mundo como lugar para nossa ação e deleite e traremos um pouco do céu que há em nós para o mundo, reconhecendo que o Reino é dado por Deus e deve sempre ser vivido por nós. Dessa forma, a felicidade não será buscada do lado de fora, mas sairá e alcançará a muitos.
Nosso tesouro será Cristo em nós e, como consequência, abertura a Deus e ao próximo e um mundo melhor. Mesmo que passageiramente, Céu e Terra se misturam.
Pensemos
Fabrício Veliq
13.03.2014 – 08:48

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