Crises: entre o desespero e a esperança

Crises: entre o desespero e a esperança

Photo by Sven Brandsma on Unsplash


Uma das características comuns presentes nos momentos de crise é a sensação de que ela nunca passará. Cada dia é demorado demais, uma semana nos dá a impressão de um mês e perdemos essa noção de quanto tempo realmente já se passou desde que determinada crise começou.

Nesse cenário, é comum que várias pessoas sucumbam ao desespero e à desesperança por não vislumbrarem nenhuma saída possível naquele momento em que desejariam já tê-la em mãos. Embora ambas as palavras, etimologicamente, queiram dizer a mesma coisa, em nossa linguagem ordinária se tende a colocar o desespero como sendo algo mais urgente, enquanto a desesperança seria uma atitude mais passiva. No entanto, essas duas palavras derivam do latim: de – “sem” sperare – sper – “esperança”, de maneira que o desespero é característica de todo aquele que perdeu a esperança em algo.

Ao mesmo tempo, a experiência também nos mostra que uma das características do desespero é buscar soluções rápidas e, não dificilmente, buscar atalhos para resolução das questões que nos afligem. Assim, não é difícil observamos que são diversas as pessoas que buscam soluções milagrosas para as crises e, muitas vezes, na ânsia de encontrá-las rapidamente, tomam decisões sem muita reflexão e acabam encontrando mais problemas do que soluções.

Que tais circunstâncias sejam pratos cheios para charlatões e charlatães da fé nos parece claro. Uma vez identificada uma pessoa vulnerável e que está disposta a dar tudo o que tem para sair de determinada crise, basta oferecer uma solução espiritual e que conta com o auxílio divino mediante o pagamento de alguma “oferta de amor”, “ato de fé”, ou qualquer outro nome que remeta à uma relação com alguma divindade e pronto. Consegue-se uma nova fonte de exploração e, quiçá, um prosélito.

Por outro lado, os momentos de crises também podem se tornar oportunidades de grandes reflexões e autoconhecimento para aqueles e aquelas que conseguem, apesar de tudo, fazer isso. Olhar para dentro, procurar as motivações, perguntar-se honestamente sobre o porquê de determinadas posturas e comportamentos são questões comuns dos momentos de crise que, bem direcionados, podem resultar numa melhora considerável na qualidade de vida, e até mesmo, possibilitar vislumbrar e planejar a vida após o período de crise. Nesse sentido, a ajuda psicológica, oferecida por profissionais, pode cooperar muito.

Ao contrário do que muitos podem pensar, crises existenciais não são sinais de falta de fé, ou de afastamento de Deus e, muito menos, de fraqueza espiritual ou psicológica. Muito pelo contrário, nos textos bíblicos há inúmeros exemplos de profetas, reis, juízes que entraram em crises (Elias, Jeremias, Jonas, Davi, Ezequias, Gideão, somente para citar alguns). Para todos esses nunca houve a condenação de Deus por causa de sua crise, mas, como mostram os textos, Deus se colocou ao lado dessas pessoas, instando para que fossem fortes, resistissem, recobrassem a esperança, uma vez que a crise não é para sempre e, uma hora, ela há de passar.

Nesse sentido, os apocalipses bíblicos (Daniel e João) trazem essa mensagem de esperança de que a perseguição, a dor e o sofrimento não são sem fim e, mesmo que passemos por ele, na perspectiva cristã, Deus não se mostra distante, mas caminha conosco nos fortalecendo e nos motivando a continuarmos firmes.

Sofrer com as crises é algo humano e não há nada de errado com isso. Na perspectiva cristã, cremos que o momento que passamos não é para sempre e que Deus não está acima de todos, como clamam os negacionistas que se dizem cristãos, mas entre nós, na caminhada. Esse é o motivo de nossa esperança.

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