Fique em casa: um tema teológico

Fique em casa: um tema teológico

Photo by Sharon McCutcheon on Unsplash


O número de casos de COVID tem crescido vertiginosamente no país. Diversas cidades estão com taxas altíssimas de internações em UTI e várias estão à beira de um colapso na Saúde. Como fator principal, temos o descaso com que o Governo Federal tem tratado até agora a pandemia, cercado de discursos negacionistas por parte daqueles e daquelas que deveriam zelar pelo cuidado do povo. Ao mesmo tempo, há uma parcela considerável da população que ainda não percebeu o quão grave essa doença pode ser. Ainda vemos bares cheios, pessoas nas ruas sem necessidade, festas clandestinas acontecendo, serviços não essenciais com meia porta fechada, no intuito de burlar algum tipo de fiscalização, dentre tantos outros exemplos que poderiam ser citados.

Esse tipo de comportamento, muitas vezes, vem acompanhado de algum tipo de justificativa, seja de ordem econômica, psicológica ou passional, o que leva tais pessoas a acreditarem que estão, sim, combatendo a pandemia. Quantas vezes não ouvimos que “determinada festa seguirá todos os protocolos de segurança”, ou que “lá aonde vou, todo mundo está fazendo isolamento certinho”, ou ainda “preciso sair para determinado lugar porque senão minha saúde mental colapsará”?

Não ignoramos o fato de que o isolamento tem trazido grandes problemas de ordem psicológica e que, muitas vezes, o encontro com algumas pessoas se mostra importante para que crises de pânico, depressão etc. possam ser evitadas. Contudo, é importante ter clareza que “saúde mental” não pode ser termo coringa para evitar o isolamento social, o cuidado mais eficiente que temos neste momento (visto que ainda não temos vacina para todo mundo) para parar o crescimento de contágio do vírus.

Diante disso, qual é o papel da teologia? Como ela pode ajudar o mundo num cenário desse? Se olharmos para diversos discursos atuais, o que vemos são muitos pastores, pastoras, padres etc. incentivando o não isolamento, querendo que as reuniões continuem a ocorrer de maneira presencial, negando os dados que têm sido trazidos constantemente por cientistas sérios que estudam tal questão.

Isso tudo pode ser desmotivador para teólogos e teólogas comprometidas com o Evangelho que promove a vida, mas isso não deve fazer com que desanimemos. Muito pelo contrário, é tarefa teológica alertar o povo para que ouça os cientistas, que faça o isolamento social, que use máscara, que vacine quando possível, visto serem esses instrumentos que estão disponíveis para combater essa pandemia.

Ao mesmo tempo, também é tarefa teológica denunciar as lideranças que fazem pouco caso do vírus, mostrando que agem como falsos profetas, ministros do inferno e sacerdotes diabólicos, promotores de morte entre o povo.

A teologia não pode ser conivente com o descaso para com a vida, nem pode se calar quando o nome de Deus é usado para a promoção da morte. Teólogos e teólogas comprometidas com Reino de Deus devem, portanto, levantar-se e serem vozes proféticas no meio da sociedade em que estão inseridos, a fim de que aqueles e aquelas que buscam refúgios em suas palavras possam agir de maneira correta e não se contaminarem com o COVID.

Esses são somente alguns exemplos do possível papel que uma teologia pode desempenhar neste momento, mostrando-se séria e comprometida com a humanidade, que, convenhamos, é muito mais importante do que qualquer discurso proselitista.

Diante desse cenário, podemos afirmar que toda teologia que se diz cristã e ao mesmo tempo se mostra conivente com as posturas negacionistas geradoras de morte ainda não compreendeu a mensagem do Evangelho de Jesus e, portanto, está contra a vontade do Deus que deseja a vida, o qual Jesus chamou de seu Pai. Em outras palavras, tal teologia se mostra como diabólica e, portanto, não cristã.

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