Teologia dialogal ou estereotípica?

Teologia dialogal ou estereotípica?

Diversas são as pessoas que se consideram abertas ao diálogo acerca de sua religião e dizem que são dispostas a manter uma convivência amistosa e cordial com os não pertencentes a ela. Até mesmo porque, no atual momento de intolerância que vivemos, colocar-se como uma pessoa disposta a entender pontos de vistas divergentes e, assim, mostrar-se como tolerante, dá um ar de pessoa “pós-moderna”, “descolada” e de “vanguarda” nas relações inter-pessoais.
Nesse sentido, o discurso acerca da abertura ao diferente, diálogo efetivo e acolhimento ao pensamento diferente é o que deve ser professado para não ser visto como uma pessoa de uma linhagem tradicional e arcaica. Porém, será que ao se observar a vida cotidiana é possível perceber a coerência entre a prática e o discurso? Infelizmente, na maioria das vezes não. Ou se parte para uma indiferença com relação à crença do outro, ou seja, tanto faz em que o outro acredita, desde que isso não prejudique a vida das pessoas, ou então se parte para o total fechamento devido ao estereótipo criado acerca da religião alheia. Como as duas atitudes merecem atenção, nesse texto se começará a falar da questão do estereótipo.
No texto da semana passada, se falou a respeito da dificuldade que o Cristianismo tem de lidar com a interpelação das religiões de matrizes africanas devido a um pensamento estereotipado. Mas, será que se tem claro o que é a estereotipia?
Em sua origem, o estereótipo tem a ver com a produção gráfica. Para imprimir determinado texto de maneira que todos saíssem iguais, era necessário fixar as letras dentro de uma fôrma de metal moldada. Uma vez que as letras estavam fixas, era possível então imprimir todas as páginas com o mesmo texto, mantendo-se a distância das letras e palavras padronizadas, de maneira que se poderia comprar qualquer exemplar e se leria a mesma coisa, na mesma ordem e no mesmo padrão.
Dessa forma, pensar de maneira estereotipada tem a ver com assumir uma postura de um pensamento pré-concebido, enrijecido, padrão e banal a respeito de determinada situação. No caso das relações e vivência dentro da sociedade, são diversas as oportunidades em que se presencia determinada atitude. Atitudes tais como falar para amigos gordos que eles precisam emagrecer, ou ainda, atravessar a rua para o outro lado porque vem vindo um adolescente negro em nossa direção são exemplos de como a questão estereotípica está arraigada culturalmente na sociedade, se tornando lugar comum e forma fixa de leitura do mundo.
No caso das religiões, o pensamento por estereótipos também é muito comum. Quantas vezes já se ouviu dizer que “todo muçulmano é terrorista”, ou que “todo católico é idólatra”, ou ainda que “budistas são pessoas ‘zen’”? Esses são somente pequenos exemplos de como o pensar a respeito das outras religiões, para a maioria das pessoas, também passa por uma visão estereotipada que se cria a partir dos diversos ambientes que se frequenta. Essa visão pode começar na família, passando pela Igreja, até chegar aos discursos nacionais acerca de determinada religião. Assim, passar da estereotipia para o preconceito e do preconceito para a desumanização não parece um caminho tão longo e, infelizmente, em muitos casos é visto por muitos como algo necessário.
O Cristianismo, se quiser realmente ser luz no mundo e sal da Terra como proposto por Jesus, necessita interpelar os pensamentos estereotipados que são, constantemente, pregados em templos cristãos ao redor do mundo. Isso não quer dizer assumir uma postura de indiferença em relação às outras religiões, antes, assumir uma postura realmente dialogal em que, primeiro se ouve o que o outro tem a dizer, após isso compreende os pontos do outro, para, somente depois, dizer algo, contrapondo-se ao que é divergente e assimilando o que é convergente nos diversos discursos.

Pensar fora dos estereótipos não é uma tarefa fácil, mas é uma exigência, caso o Cristianismo queira se manter como uma religião que tem algo significativo a dizer ao mundo atual. Assim, escolher entre ser uma teologia de diálogo ou uma teologia do estereótipo se torna uma questão fundamental.

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