Sobre alguns extremismos

Sobre alguns extremismos

Tenho pensado sobre extremismos evangélicos nesses últimos dias. Participei de algumas discussões teológicas, li alguns artigos em sites evangélicos, conversei sobre questões que de certa forma, são consideradas como tabus no meu cristão e recentemente li um artigo sobre o natal também. No artigo , a autora critica muito a comemoração natalina dizendo que tem origem pagã e portanto não deveria ser comemorado, uma vez que Jesus não comemorou nem deu instrução para fazermos isso e por aí seguia o argumento.
Todos esses fatos e leituras me fizeram pensar sobre esse tema e é algo que ainda continuo pensando. Mas por que será que as pessoas precisam das formas engessadas?
Penso que na maioria das vezes, por uma questão de segurança e falta da responsabilidade em lidar com a liberdade.
Afinal, é muito mais fácil e seguro manter-se no caminho quando há as faixas delimitando qual o trajeto a ser seguido. Com faixas, uma vez que se sai do limite delas, a culpa de se estar fora do trajeto é bem mais facilmente identificada de forma a fazer voltar ao trajeto anterior. Mas uma vez que são necessárias as faixas para se andar, essas também revelam ser um grande indício de que não sabemos qual o caminho que deve ser seguido.
Mas será que o evangelho deve ser baseado na culpa para a volta do caminho?
Mas uma questão surge: por que os líderes legitimam as visões engessadas uma vez que aqueles que sempre precisam das ordenanças para não fazer besteiras são como crianças e a função do líder e sempre conduzir seu povo para o crescimento? Acredito que por serem mais fácil de se liderar as pessoas quando as mesmas não pensam no porquê de suas ações.
Tenho percebido que a maioria das pessoas do meio protestante (meio em que mais convivo) não conseguem lidar com a liberdade. Talvez devido à uma cultura protestante arraigada há muito tempo nos corações de muitos. Dessa forma, vivem uma pseudo liberdade, ou seja, a liberdade de andar somente dentro do trajeto. Pardoxal? Eu também considero.
E que tipo de pessoas isso gera? Talvez pessoas como a da imagem. Pessoas que tem se enfraquecido e morrido sem nunca conhecer o verdadeiro reino de Deus que é simples e cheio de graça enquanto buscam o deus das diversas instituições. Verdadeiros super crentes que ganham o mundo inteiro através de seus dogmas e dia a dia secam sua alma e a de todos os que seguem seus caminhos.
Sempre que penso nessas questões, vem a minha mente a proposta do reino. O reino de Deus, pregado por Jesus sempre foi um reino voltado para a liberdade. Podemos perceber nas escrituras que Jesus não deu muitas ordenanças para seus discípulos enquanto esteve com eles.
Foram muito poucas e a maioria delas, foram em situações bastante específicas, tais como ficar em Jerusalém até serem revestidos, não levar comida nem nada além do que o necessário quando saíram na missão dos 70 e por aí vai.
O que Jesus, em todo seu ministério, ensinou aos seus discípulos é que tudo deveria ser feito por amor a Ele e que se alguma coisa era feita que não fosse motivada no amor então não tinha valor nenhum para o Pai.
Por isso que penso, que a proposta de Jesus nada tem a ver com as formas engessadas que ouvimos e vemos hoje em dia.
Mas por que então não se ensina o povo a se pensar? Bom, todos concordamos que aqueles que não tem conhecimento são mais fáceis de serem liderados e como é bom liderar sem ninguém para fazer os diversos questionamentos…
O maior problema é que fazendo isso, os líderes não incentivam que seus membros cresçam e se desenvolvam chegando à maturidade cristã.
Afinal, todo pai tem vontade que seu filho cresça e se desenvolva e seja capaz de tomar suas decisões baseados nos princípios que lhe foram ensinados e não que fique como criança que sempre perguntam:  posso fazer isso?
posso comer aquilo?
posso sair hoje?
e esse também deveria ser o intuito de todo o que lidera.
Mas chegar à maturidade não é algo fácil; exige os questionamentos, exige contestar dogmas, pensar sobre o porquê das ações diárias, pensar se as coisas não podem ser diferentes daquilo que sempre nos foram ensinadas e isso gera conflitos, gera dúvidas e às vezes até a não compreensão por parte dos que estão próximos mas com certeza, o Pai olha para nós e diz: Que bacana, meu filho está crescendo e desenvolvendo sua fé.
Na cultura judaica, há um momento em que o pai apresenta seu filho perante a sociedade dizendo:
 – esse é meu Huios. Isso quer dizer: esse meu filho agora pode me representar perante toda a sociedade de Israel. O que ele falar é como se eu falasse e o que ele decidir é como se eu estivesse decidindo. (Essa é a mesma expressão usada por Deus quando da descida do Espírito Santo em forma de pomba sobre a cabeça de Jesus: “Esse é meu Huios em quem me comprazo, a Ele ouvi”.
E esse é o desejo do Pai para nós. Que sejamos Huios, pessoas que representam-no na Terra fazendo das nossas obras, reflexo das Dele.
E uma vez entendido isso, cessam-se as ordenanças, uma vez que nossas ações serão sempre reflexos das ações do Pai motivadas pelo amor que temos por Ele e pelo que Ele nos fala. Aprendemos que, na verdade, tudo é lícito mas nem tudo convém. E por que não convém? Porque não agrada ao Pai, simplesente por isso.
Ao chegar a maturidade, entendemos que se algo não é feito em amor, não vale nada para Deus. Que se não pecamos para alcançar o céu, é porque não entendemos a proposta do reino, entendemos que o pecado desagrada a Deus de tal forma que eu não querendo magoar àquele a quem eu amo tanto, não vou pecar. E assim vivemos não sobre a culpa e peso das ordenanças, mas sob o fundamento do amor.
Entendemos que se fazemos algo em amor, fazemos Nele, se fazemos por amor, fazemos por Ele e se fazemos isso para o próximo, também faremos para Ele e assim entenderemos o dito de Paulo que diz: Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
Minha mãe me perguntou ontem: Fabrício, por acaso esses questionamentos que você faz às pessoas, ajudam-nas a aproximarem de Deus?
Não sei dizer, mas penso que elas compreendem melhor o reino através desses questionamentos e compreendendo o reino, muitas vezes percebem o quão longe estejam dele. E isso é um grande passo para aproximar-se de Deus.
Coisas que tenho pensado nesses últimos dias… e como sempre digo:

Pensemos…

Fabrício Veliq
03.05.2010 – 11:41

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