pensando sobre o diálogo inter-religioso

pensando sobre o diálogo inter-religioso

Ultimamente tenho pensado sobre o diálogo inter-religioso e quais as conseqüências disso para a vida cristã. Seja no seu aspecto espiritual, como no seu aspecto relacional entre as diversas religiões.
É sabido da imensa dificuldade em lidar com religiões diferentes ao redor do mundo. Muitas vezes essas diferenças religiosas geram diversos conflitos. Guerras já foram causadas por essa questão, vale lembrar a questão das cruzadas, da invasão muçulmana na região ibérica e várias outras poderiam ser citadas nesse sentido.
Ainda hoje há a guerra religiosa, seja entre judeus e palestinos, cristãos e não cristãos e a luta não declarada em torno das diversas denominações existentes hoje em dia. Isso tudo devido a uma convicção existente em cada uma dessas religiões e denominações. Convicções são demônios conforme Rubem Alves. Quem tem convicções acha que tudo está certo e essa convicção de que a verdade está ao lado das opiniões é que gera a intolerância. Intolerância gera guerras e inimizades que uma vez geradas produz uma sociedade que ao mesmo tempo que se afoga dentro de suas verdades, também luta contra os que não pensam da mesma forma.
Nesse contexto surge uma nova proposta chamada ecumenismo , uma proposta que visa trazer a reunião dessas religiões em torno de uma consciência única.
Consciência de que todos são irmãos, de que tudo deve ser em torno do amor ao próximo e que todos são filhos do mesmo Pai. A única diferença é a forma como se relaciona com esse Pai. Ora chamando-o de Alá, ora de Shiva, ora de Espírito desenvolvido e assim por diante.
Acredito que para discutir essa questão temos que tomar por base algum princípio. Para a discussão proposta, pretendo adotar o princípio protestante de crença no sacrifício remidor de Jesus e todas as suas implicações no campo protestante.
Há duas questões que gostaria de considerar a respeito do ecumenismo que acredito serem de alguma importância para discussão desse assunto.
Reforço que são questões pessoais e que tenho pensado nesses últimos dias sem pretensão de esgotá-lo em tão poucas linhas.
Em primeiro lugar, suponhamos que existe uma base única a que todos devem se submeter para que exista uma melhor vida em sociedade e sobre a face da Terra. Essa base seria o amor. Se considerarmos que a base é o amor, na doutrina protestante temos que o amar a Cristo é obedecer a seus mandamentos, ou seja, andar como Cristo andou. Esse andar como Cristo é possível mesmo sem tê-lo conhecido, uma vez que andar como Cristo é ter as mesmas atitudes que ele teve nas diversas situações da vida. Se consideramos isso como verdade, temos duas questões a serem trabalhadas. A primeira seria questionar qual o motivo da morte de Jesus, visto todos poderem seguir seus passos sem conhecê-lo. Há padrões morais e éticos que devem seguir para se alcançar uma salvação. Ao analisar a história, percebemos que há vários que viveram e andaram com as mesmas atitudes de Cristo. Como exemplo, posso citar Gandhi que libertou o povo indiano do domínio inglês. Dessa forma, se andar como Cristo é ter padrões éticos e morais como ele teve, e isso é determinante de salvação, não faz necessário um sacrifício para esse fim. Sendo assim, podemos desconsiderar um dos pilares da fé cristã.
Em segundo lugar, gostaria de levantar um contraponto para discutir: No protestantismo temos Jesus como aquele que veio cumprir a justiça de Deus, uma vez que o homem no início pecou e por isso era necessário que morresse. Nesse contexto, Deus em sua infinita graça, enviou seu filho para morrer pelos nossos pecados a fim de cumprir essa justiça. Um pecou, um tem que morrer. Então, por ato de graça, Jesus morre por nós e nos traz a salvação da condenação eterna. Graça essa que é motivo do nos mover e fazermos tudo o que fazemos e que nos dá condição para sermos tudo aquilo que devemos ser.
Sendo assim, temos a graça de Deus manifestada em Cristo a fim de fazer justiça. Também pelo sacrifício de Cristo, o Pai nos agracia nos dando condições de imitar a Cristo mesmo sem conhecê-lo.
Em Mateus 16 temos um texto interessante:
E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mateus 16: 14 – 18)
Nesse texto percebemos vários pontos interessantes. Em primeiro lugar é que é a primeira vez que aparece a palavra igreja na Bíblia. E essa palavra tem a ver com a identidade de Jesus. Ela surge ao Jesus perguntar sobre quem ele era. Outro ponto, é a declaração de Jesus a Pedro :
Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dessa declaração podemos tirar a conclusão de que a igreja são aqueles que receberam a mesma revelação de Pedro de que Jesus é o filho do Deus vivo. Mas que revelação seria essa?
Seria essa consciência de um modo de viver digno assim como o de Cristo como exposto mais acima?
Se for, o problema está resolvido uma vez de que todos os que andam com o padrão moral de Cristo é porque esse o foi revelado pelo Pai, uma vez que somente pelo Pai é que andamos como Jesus. Se não, voltamos à questão tradicional onde aquele que não confessa com a boca e crê com o coração não é salvo, ou seja, não temos propostas ecumênicas na Bíblia.
De todo modo, excelente coisa a se pensar…
Fabrício Veliq
18/08/2009

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